O ser humano tem uma dignidade intrínseca. Cada pessoa é
merecedora de um grande respeito apenas pelo fato de ser
humana; mas em quantos lugares essa verdade é efetivamente
colocada em prática? Não muitos, a julgar pela observação
cotidiana. Mas existe, sim, um ambiente em que cada um é
querido pelo que ele é, independentemente de sua utilidade ou de
seus atributos. Esse ambiente é a família.
O homem é um ser em formação; não vem pronto. E, ao mesmo
tempo, é um ser social. Seu desenvolvimento exige a contribuição
dos demais, e a principal estrutura básica de apoio é a unidade
familiar, na qual cada um encontra o espaço adequado para seu
aprimoramento. Se acreditamos que a finalidade do ser humano é
a excelência na prática da virtude, a família é o primeiro ambiente
em que as crianças terão a possibilidade de aprender as
qualidades necessárias para uma vida ética. A família é o locus
ideal para o exercício da generosidade: os adultos a colocarão em
prática por meio da entrega mútua exigida pelo casamento e pelo
desprendimento exigido com a chegada dos filhos; as crianças
poderão se espelhar nos pais, dar sua colaboração para que o lar
seja sempre um ambiente saudável e, se tiverem irmãos,
aprenderão desde a mais tenra idade a importância de dividir o
que têm. Por meio dessa dedicação integral, o ser humano
desenvolve a si mesmo e aos que convivem com ele. Este é um
empurrão poderoso na direção da construção de pessoas
completas.
A família é o primeiro ambiente em que as crianças terão a
possibilidade de aprender as qualidades necessárias para uma
vida ética.
Compreendendo as dimensões da dignidade humana e do
chamado à excelência, pode-se entender o papel primordial da
família. Ela é o ambiente mais propício ao desenvolvimento
pessoal de seus membros com vistas à construção do bem
comum, e justamente por isso ela precisa contar com a proteção
ativa da sociedade e do Estado. Isso significa reconhecer o dom
que as famílias oferecem quando estão abertas à vida e, por meio
dos filhos que geram, buscam dar à sociedade novos membros
conscientes do valor de cada ser humano e da necessidade de
uma vida virtuosa para atingir a realização pessoal e a felicidade
própria e dos demais. Infelizmente, difundiu-se uma mentalidade
antinatalista que vê os filhos principalmente como fonte de gasto
financeiro e de desgaste físico e emocional. É preciso resgatar
urgentemente a convicção de que os filhos são valiosos pelo que
são.
O poder da família é tão grande que as mazelas que a afligem
têm um impacto enorme e profundo. Pensemos, por exemplo, na
violência doméstica, no abandono dos filhos, nas infidelidades. Se
esse tipo de atitude já fere quando cometida entre pessoas que
nem se conhecem, ou entre amigos, ela é ainda mais grave
quando dirigida à pessoa escolhida para se construir uma vida
toda em comum, ou àqueles a quem se deu o dom da vida, que
são sangue do seu sangue. Os laços que se constroem numa
família não são laços quaisquer. As agressões à família e as
cometidas dentro dela são males que precisam ser combatidos
sem descanso.
Famílias fortes levam a sociedades fortes
Além disso, é perfeitamente razoável que a sociedade se ocupe
da tarefa de proteger a família e sua prole com iniciativas que
facilitem a convivência entre pais e filhos, no âmbito comunitário e
também institucional – é louvável uma legislação que reconheça a
importância da família como célula básica da sociedade e dê
condições para que pais e mães possam estar sempre presentes
ao longo da vida dos filhos, como licenças e regras trabalhistas
que permitam uma flexibilização de horários acertada entre patrão
e empregado, de acordo com situações particulares.
Uma sociedade que aposta na família, que se esforça para evitar
a desagregação e a fragilização dos lares, que valoriza os filhos
como uma verdadeira riqueza e que, na medida do possível, se
inspira nessas características positivas da família ao formular
suas políticas públicas tem tudo para ser uma sociedade
saudável. Famílias fortes levam a sociedades fortes.